A Guerra dos Deuses

Imaginem o mundo sem a presença humana. Eu imagino um Paraíso. A Terra como um ser único, um ecossistema perfeito,em que todos os seres se complementam, numa cadeia de vida inesgotável. O Homem não pode ser obra de um Deus. Um Deus não faria com que um ser imperfeito estragasse toda a beleza da pintura da vida. Teria de ser um Deus vaidoso,ruim,que não satisfeito com a Sua obra quisesse mandar para a Terra um ser que a admirasse.

Ou então...Imaginem um Deus,o Deus Riizgaia, um ser omnipresente e multi-dimensional que vagueasse pelo Universo, cujo pensamento fosse seu corpo, e seus sentimentos fossem a própria beleza, a própria verdade. Esse Deus quis fazer uma obra. Veio para a Via Láctea e neste canto do Universo criou a Terra.

Quando chegou, a Terra era uma enorme bola de fogo. Começou então a moldar este planeta de forma a ter vida, e fê-lo em 7 estapas. Nas primeira etapa, Riizgaia tratou de arrefecer o planeta, na segunda de criar uma atmosfera de forma a haver chuva e mares. Na terceira etapa, Riizgaia criou os continentes, e determinou a existência dos vegetais. Seguidamente, na quarta etapa, criou as estações, de forma a que os seres vivos pudessem ter um ciclo de vida. Depois, na quinta etapa, o Deus Riizgaia criou vários animais, uns milhares de espécies nos oceanos e rios, outros milhares em terra e nos céus.

Riizgaia olhou então para a sua obra e viu a sua perfeição, a sua beleza. Quando ia dar os últimos pormenores e então descansar, na sexta etapa, algo perturbou o seu pensamento, como se palavras soltas invadissem o seu espírito, e o atormentassem. Essas palavras diziam que era inútil fazer tão grande e perfeita obra, sem ter um ser pensante que a contemplasse, que adorasse tanto a obra, tal qual como o Criador.

Quem estava por detrás de tais pensamentos era o Deus Falgir, uma força ruim e invejosa, que desde sempre tentou criar o seu próprio planeta rico em vida inteligente, mas sempre sem sucesso, devido à sua ganância. Ao ver a obra do Deus Riizgaia, não conseguiu conter a sua inveja e jurou destruir tudo o que este tinha feito. Entrou então nos seus pensamentos e manipulou-o de forma a criar o Homem, o ser pensante.
Então, na sexta etapa, o bom Deus Riizgaia cria o Homem. Lançou na Terra setecentos mil homens e setecentas mil mulheres, mas depois de fazê-lo, sem saber porquê, o seu coração estremeceu. E na sétima etapa então descansou.

A partir daqui, o ruim Deus Falgir esteve sempre por detrás de todas as acções do Homem. Deu a este animal a suprema heresia, a inteligência, um cérebro. Sabia de antemão que esse mesmo cérebro de nada serviria ao Homem no Paraíso que era a Terra. Este Deus fez com que o Homem descobrisse o Fogo, pô-lo no caminho dos instrumentos, e mais tarde das armas.

O temível Deus Falgir, senhor do Tempo, preveu que o Homem se auto-destruiria cedo demais, e que este não iria destruir a obra do Deus Riizgaia - o planeta Terra. Lançou então na Terra um homem chamado Jesus, para que servisse de inspiração à bondade dos Homens, para que estes se guiassem por ele e não se auto-destruíssem por guerras e ódios demasiado cedo. Ele queria que os Homens prosperassem e sugassem todo o sangue-negro da Terra, que cobrissem o planeta com o cinzento do betão, que todo o verde desaparecesse, e só restasse a cor ocre das injúrias do Homem à Mãe Natureza.

A Terra aos poucos ficou manchada de sangue, o Búfalo desapareceu, o Elefante e a Baleia mais tarde também cairam no grande Buraco do Esquecimento, na extinção não-natural. Aos poucos o grande Mar ficou vermelho, e a sua diversidade acabou, o eterno Céu lívido, onde o Pássaro deixou de voar, a obra-prima pereceu à mão do Homem, o Grande Vírus.

O Deus Riiaz, o Deus da Natureza ficava cada vez mais irado com as maldades e desprezo do Homem em relação a tudo o que era vida. Achava o Homem demasiado estúpido para viver na sua perfeição, achava que o Homem não era merecedor de tal Paraíso, pois destruia a sua própria Água, contaminava o seu próprio Ar e deixava os seus pares morrer à fome e à mercê de guerras fúteis. Riiaz, irado, ofereceu aos Homens um presente: a Grande Bomba. E colocou-a nas cabeças de homens como Oppeinheimer, Einstein... mas nada mudou...o Homem só se servia da Bomba para alcançar a Paz...

Foi então que o Deus Riiaz teve uma ideia: tornar a Tecnologia o seu maior aliado. Começou a perceber que o Homem chegou a um momento da sua evolução em que não vive sem ela. Riiaz não hesitou: colocou na mente de grandes cientistas tremendos avanços tecnológicos, avanços que à primeira vista poderiam parecer que ajudavam a fortalecer a presença humana na Terra, mas que aliados à ganância e à sede de poder dos Homens poderia ser o seu maior inimigo.

O Deus Falgir ripostou, e lançou na Terra ''o filho de Deus'', o regresso de Jesus à Terra. Este Homem, dotado de poderes divinos, curou os enfermos, lutou contra as grandes potências mundiais, usou a palavra para espalhar a fé, a bondade e a igualdade na Terra. O Homem uniu-se em torno dele como nunca, as religiões deram as mãos, e o Mundo entrou na Era Dourada, em que a Fome e a Guerra pareciam estar a desaparecer.

Por outro lado, começaram-se a fazer avanços com a clonagem de seres humanos, com a manipulação genética, e com o uso da Anti-matéria. Houve um povo que fez a primeira Bomba de Anti-matéria em segredo. Riiaz fez com que a notícia se espalhasse, e Jesus,o Enviado, protestou contra ela veemente, afirmou que teria de ser destruída. No outro lado do globo outras nações pressionaram os inventores da Bomba, e em segredo fizeram esforços para conseguir uma.

Quando a conseguiram, a seguir a uma invasão por parte do país inventor da Bomba a umas instalações onde se presumia o fabrico ilegal da mesma... alguém a despoletou.

O Mundo ruiu. 40% da populaçãop mundial morreu nas primeiras semanas, em dois anos 98% da Humanidade pereceu. Os 2% que restaram viveram dentro de montanhas,mas por pouco tempo.O último Homem caiu.

Riiaz olhou para o seu Paraíso e não o reconheceu.A grande maioria das espécies do Planeta tinham sido eliminadas, mas por debaixo do manto de destruição, uma semente brotava! O Planeta continuava vivo! Após vários milhares de anos, as espécies que sobreviveram à Grande Explosão dominaram o Planeta,o verde dominou a paisagem e a Terra voltou a ser um local diferente, mas igualmente sagrado.

Falgir partiu para outro tempo, para outra dimensão.Não sem antes de retirar o ADN de uma criança, antes desta ter partido para a extinção...Falgir iria de novo semear a Humanidade noutro Planeta longínquo. E com ele ia a semente da arte, do amor, da compreensão, mas também a semente da destruição, da guerra, da injustiça humana.

2 comentários:

Unknown disse...

brutal puto!

David Lobo Cordeiro disse...

Obrigado João! A esta história é que gostava de "oferecer" uma banda desenhada. Já estou a imaginar o Deus Falgir, de semblante carregado, cheio de ira...